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Quanto o Brasil perde com a evasão de cérebros?

O Brasil está passando por uma crise sem precedentes no financiamento CT&I. Com investimentos decrescentes desde o início de 2015, a comunidade científica, constituída de pesquisadores vinculados a centros de pesquisa ou universidades, alunos de mestrado e doutorado bem como pesquisadores em estágio de pós-doutorado, lutam para continuar produzindo, mesmo com escassez de recursos. A política do atual governo vem causando grandes prejuízos e deixando sequelas nesta área vital para elevar o status de desenvolvimento econômico e social do país.
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Odir Antônio Dellagostin
Presidente da FAPERGS e Presidente do CONFAP
odirad@gmail.com

O Brasil está passando por uma crise sem precedentes no financiamento CT&I. Com investimentos decrescentes desde o início de 2015, a comunidade científica, constituída de pesquisadores vinculados a centros de pesquisa ou universidades, alunos de mestrado e doutorado bem como pesquisadores em estágio de pós-doutorado, lutam para continuar produzindo, mesmo com escassez de recursos. A política do atual governo vem causando grandes prejuízos e deixando sequelas nesta área vital para elevar o status de desenvolvimento econômico e social do país.

Nestes 7 anos de crise no financiamento, a pós-graduação continuou crescendo. De 102 mil alunos de doutorado matriculados no doutorado em 2015, passamos para 125 mil alunos em 2020 (Fonte: GeoCapes). O número de doutores titulados aumentou de 19 mil em 2015 para aproximadamente 25 mil em 2021. Como resultado, também aumentou a produção científica, passando de 71.406 artigos publicados em 2015 para 101.385 em 2021 (Fonte: SciVal). Uma simples análise destes números poderia levar à conclusão de que estamos tendo resultados muito bons! Porém, o cenário futuro se mostra muito sombrio.

O valor das bolsas de mestrado e de doutorado não tem reajuste há mais de 9 anos. Neste mesmo período, a inflação acumulada alcançou 75%. A bolsa de mestrado, que na década de noventa tinha um valor equivalente a mais de 6 salários mínimos, hoje é de apenas 1,2 salários mínimos. A bolsa de doutorado, que chegou a ter um valor equivalente a mais de 10 salários mínimos em 1995, hoje, com um valor de R$ 2.200,00, equivale a apenas 1,8 salários mínimos. A consequência da grande defasagem no valor das bolsas é que os melhores talentos, egressos da graduação, não estão mais buscando a pós-graduação. Os que estão cursando a pós-graduação com bolsa, não estão podendo se dedicar integralmente ao trabalho de pesquisa, pois precisam buscar outras fontes de recurso para poderem se manter.

Ao concluir o doutorado, após 10 anos de estudos e de trabalho de pesquisa, contabilizando a graduação, o mestrado e o doutorado, o que temos para oferecer? Um pequeno número de bolsa de pós-doutorado de R$ 4.100,00, valor com poder aquisitivo 50% menor do que esta modalidade de bolsa tinha em 2007. Além do baixo valor, pela falta de reajuste, o número de bolsas de pós-doutorado, que chegou a mais de nove mil bolsas no ano de 2015, hoje não passa de cinco mil bolsas somando as concedidas pela Capes e pelo CNPq. Esta situação está forçando nossos jovens doutores a buscar oportunidades em outros países.

Afinal, quanto o Brasil está perdendo com a evasão de cérebros? Não sabemos o número exato de doutores formados no Brasil que buscaram oportunidades em outros países, pois não há um controle, porém, sabemos que são muitos! O custo da formação acadêmica de um doutor pode facilmente ultrapassar meio milhão de reais, considerando as bolsas e o custo da universidade onde ele estudou. Ao perdermos este doutor, não estamos perdendo apenas este valor, mas estamos perdendo um talento que poderia estar ajudando o país a produzir mais, a inovar, enfim, a gerar riqueza e renda para nós brasileiros. No entanto, ele está sendo forçado a contribuir para um outro país. Temos que reverter esta situação! Precisamos de mais investimentos em CT&I, de bolsas com valores dignos e de aumento expressivo no número de bolsas, especialmente de pós-doutorado. Precisamos também de programas de incentivo a inserção de doutores no mercado empresarial, além da ampliação na área acadêmica. Temos apenas 800 doutores por 100 mil habitantes. Precisamos aumentar esta densidade em pelo menos 5 vezes para nos aproximarmos da proporção de doutores que países mais desenvolvidos possuem. Sem estancar a evasão de cérebros, oferecendo a eles condições dignas de trabalho em nosso país, não conseguiremos alcançar este objetivo.

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